O
episódio envolvendo a invasão do Instituto Royal para o resgate de 178 cães da
raça Beagle, em São Roque, a 66 km de São Paulo, ao que tudo indica até agora
gerou mais ruído e discussão sem sentido que oportunidade de reflexão sobre uma
questão de enorme importância.
A invasão
da unidade da empresa e retirada dos animais que serviam de cobaias para
experimentos científicos veiculada de maneira um tanto sensacionalista pela
mídia até agora só produziu dois blocos antagônicos: um favorável e outro
contrário à operação.
Daí a
necessidade de uma reflexão mais equilibrada e promissora sobre o caso.
A invasão
do Instituto Royal pelos ambientalistas faz sentido de um ponto de vista,
digamos, histórico.
Vamos a
cada uma delas.
A
brutalidade e desamor com animais, especialmente os domésticos e em particular
envolvendo cães, tratados pela mídia nos últimos tempos têm sensibilizado toda
e qualquer pessoa com um mínimo de percepção e preocupação quanto aos direitos
elementares que se deve ter com tudo o que vive: humanos e animais.
Nos dois
casos, no entanto, o noticiário da TV em horário nobre, e as páginas de jornal
e revistas, têm demonstrado a crise de valores em que vivemos e as conseqüências
amplas e complexas dessa situação em termos de violência, brutalidade e
desamor.
Animais
mutilados, arrastados, presos a carros e motocicletas como forma de punição,
espancados como via de liberação de rancor, ódio e outras formas de
transgressões patológicas certamente criaram, no conjunto da sociedade, um
sentimento de impunidade em relação aos infratores.
Certamente
esse tipo de procedimento esteve presente na decisão dos ambientalistas em
invadir a sede do Instituto Royal e liberar os 178 beagles utilizados em
experimentos científicos exatamente por serem dóceis e gentis no trato.
Os
advogados do Instituto alegam que a empresa tinha autorização legal para
realizar pesquisas com os animais e que, portanto, os ambientalistas são
raivosos, inconseqüentes e especialmente criminosos, neste último caso por mais
de uma razão.
A
verdade, no entanto, é que o fato de o Instituto Royal dispor de licença para
pesquisa com os beagles é, certamente, uma situação necessária mas não
suficiente e exatamente neste ponto pode estar o núcleo fundamental de toda a
questão.
E isso
não aconteceu
O
Instituto Royal deveria ter convidado um grupo de representante dos
ambientalistas, com participação do Ministério Público, para conhecer e
discutir a situação dos animais.
Os
ambientalistas já haviam estimulado o Ministério Público a se pronunciar sobre
a situação da pesquisa com os beagles, mas esse processo, como se sabe, é
indesejavelmente lento, burocrático e, em boa parte dos casos, absolutamente
frustrante.
Então, se
o Instituto Royal não teve procedimento devido (procedimento científico, pode
se dizer) para lidar com o entorno social em sua sede de pesquisa com animais,
é preciso que isso seja formalmente reconhecido e que o Instituto seja
responsabilizado por isso.
E, certamente,
o mais importante que apenas a responsabilização do Instituto Royal por isso:
que o reconhecimento dessa situação seja capaz de criar um ambiente novo e
promissor em relação ao uso de animais como cobaias na produção de
medicamentos para humanos.
Pode-se,
como defendem alguns, dispensar inteiramente o uso de cobaias vivas nesse tipo
de investigação científica?
A
resposta, aqui, está muito longe de um puro “sim” ou “não”.
É mais
complexa e desafiadora.
E
exatamente por isso deve ser analisada num contexto mais amplo e sempre com a
preocupação de evitar, de forma crescente, o uso dessas cobaias vivas.
As razões
para isso são de diversas ordens e uma delas é o elementar direito natural de
os animais poderem viver de forma digna, da mesma forma que os humanos, ainda
que ambos, homens e animais, partilhem neste momento de um mundo violento,
insensível e aparentemente sem muita perspectiva de mudança no futuro imediato.
A
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) liberou, nesta semana,
uma nota para a mídia condenando a invasão do Instituto Royal pelos
ambientalistas e isso foi aproveitado pela empresa para se passar por vítima de
truculência por parte dos ambientalistas.
Para
posicionar-se devidamente num caso como este a respeitabilíssima SBPC teria a
obrigação de fazer uma reflexão mais ampla e colocar a questão na dimensão
necessária..
Também o
ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp (ex-presidente
da SBPC) teve uma fala aparentemente mal humorada com jornalistas, quando se
referiu a esse acontecimento e condenou de forma unilateral a invasão dos
ambientalistas para liberar os 178 beagles cobaia do Instituto Royal.
Lucas
Henrique, Kessi Jhones e Lorrane França
Fonte:
http://jornalggn.com.br/noticia/episodio-do-instituto-royal-carece-de-reflexao-mais-equilibrada
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