segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Caso Do Instituto Royal

O episódio envolvendo a invasão do Instituto Royal para o resgate de 178 cães da raça Beagle, em São Roque, a 66 km de São Paulo, ao que tudo indica até agora gerou mais ruído e discussão sem sentido que oportunidade de reflexão sobre uma questão de enorme importância.

A invasão da unidade da empresa e retirada dos animais que serviam de cobaias para experimentos científicos veiculada de maneira um tanto sensacionalista pela mídia até agora só produziu dois blocos antagônicos: um favorável e outro contrário à operação.

Daí a necessidade de uma reflexão mais equilibrada e promissora sobre o caso.

A invasão do Instituto Royal pelos ambientalistas faz sentido de um ponto de vista, digamos, histórico.

Vamos a cada uma delas.

A brutalidade e desamor com animais, especialmente os domésticos e em particular envolvendo cães, tratados pela mídia nos últimos tempos têm sensibilizado toda e qualquer pessoa com um mínimo de percepção e preocupação quanto aos direitos elementares que se deve ter com tudo o que vive: humanos e animais.

Nos dois casos, no entanto, o noticiário da TV em horário nobre, e as páginas de jornal e revistas, têm demonstrado a crise de valores em que vivemos e as conseqüências amplas e complexas dessa situação em termos de violência, brutalidade e desamor.

Animais mutilados, arrastados, presos a carros e motocicletas como forma de punição, espancados como via de liberação de rancor, ódio e outras formas de transgressões patológicas certamente criaram, no conjunto da sociedade, um sentimento de impunidade em relação aos infratores.

Certamente esse tipo de procedimento esteve presente na decisão dos ambientalistas em invadir a sede do Instituto Royal e liberar os 178 beagles utilizados em experimentos científicos exatamente por serem dóceis e gentis no trato.

Os advogados do Instituto alegam que a empresa tinha autorização legal para realizar pesquisas com os animais e que, portanto, os ambientalistas são raivosos, inconseqüentes e especialmente criminosos, neste último caso por mais de uma razão.

A verdade, no entanto, é que o fato de o Instituto Royal dispor de licença para pesquisa com os beagles é, certamente, uma situação necessária mas não suficiente e exatamente neste ponto pode estar o núcleo fundamental de toda a questão.

E isso não aconteceu

O Instituto Royal deveria ter convidado um grupo de representante dos ambientalistas, com participação do Ministério Público, para conhecer e discutir a situação dos animais.


Os ambientalistas já haviam estimulado o Ministério Público a se pronunciar sobre a situação da pesquisa com os beagles, mas esse processo, como se sabe, é indesejavelmente lento, burocrático e, em boa parte dos casos, absolutamente frustrante.

Então, se o Instituto Royal não teve procedimento devido (procedimento científico, pode se dizer) para lidar com o entorno social em sua sede de pesquisa com animais, é preciso que isso seja formalmente reconhecido e que o Instituto seja responsabilizado por isso.

E, certamente, o mais importante que apenas a responsabilização do Instituto Royal por isso: que o reconhecimento dessa situação seja capaz de criar um ambiente novo e  promissor em relação ao uso de animais como cobaias na produção de medicamentos para humanos.

Pode-se, como defendem alguns, dispensar inteiramente o uso de cobaias vivas nesse tipo de investigação científica?

A resposta, aqui, está muito longe de um puro “sim” ou “não”.

É mais complexa e desafiadora.

E exatamente por isso deve ser analisada num contexto mais amplo e sempre com a preocupação de evitar, de forma crescente, o uso dessas cobaias vivas.

As razões para isso são de diversas ordens e uma delas é o elementar direito natural de os animais poderem viver de forma digna, da mesma forma que os humanos, ainda que ambos, homens e animais, partilhem neste momento de um mundo violento, insensível e aparentemente sem muita perspectiva de mudança no futuro imediato.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) liberou, nesta semana, uma nota para a mídia condenando a invasão do Instituto Royal pelos ambientalistas e isso foi aproveitado pela empresa para se passar por vítima de truculência por parte dos ambientalistas.

Para posicionar-se devidamente num caso como este a respeitabilíssima SBPC teria a obrigação de fazer uma reflexão mais ampla e colocar a questão na dimensão necessária..


Também o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp (ex-presidente da SBPC) teve uma fala aparentemente mal humorada com jornalistas, quando se referiu a esse acontecimento e condenou de forma unilateral a invasão dos ambientalistas para liberar os 178 beagles cobaia do Instituto Royal.

Lucas Henrique, Kessi Jhones e Lorrane França


Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/episodio-do-instituto-royal-carece-de-reflexao-mais-equilibrada

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